Faltam só 15 dias...Já estou sem os pinos externos de fixação, e comecei a fisioterapia.
Já se começa, a planejar onde vou estar, o que vou fazer, após esse período de hibernação...
Mas uma coisa é certa! Quero imensamente estar com meus filhos. A saudade vem à galope!
Quero minha vida, minha casa, meus amores, meu trabalho, meus sonhos que estavam no limbo, junto comigo.
Quero de volta, tudo que deixei pra trás, quando entrei nesse hospital.
Mas o mais importante, saio daqui carregada! De emoções fortes, de amizades verdadeiras, de sentimentos novos, e com saudades, de quem, passou por mim, e se foi.
Tudo tem um propósito, acho que ainda é cedo pra entender o porquê.
Mas tenho a absoluta certeza, que estou no lugar certo.
Coragem, não é uma simples palavra.
Coragem quer dizer, agir com o coração. Se tive coragem, não por que fui forte, ou fui paciente. E sim, por que agi com o coração. Se presencia muitas coisas num hospital. Só quem está aqui, entende do que falo.
Fui salva, não só fisicamente. Muito mais, pela grande experiência de vida que tive.
Aqui se entende, não que eu não soubesse, mas se vivencia na prática que, ter tudo, não quer dizer nada. Por que na hora derradeira, somos todos iguais.
A grande diferença está em como se vive. Como nos relacionamos com os outros. Na sinceridade das relações. Na perfeição do amor para com os outros.
Deus, aos poucos, foi abrindo as possibilidades.
Mas lá no início, quando me vi no abismo da dúvida, a única certeza que tinha, é que não ia adiantar nada, ficar triste, me lamentando. Eu tinha fazer o melhor da situação que me era imposta.
Acho que fiz. Estou saindo desse hospital curada. Uma cura que vai além da cura física. Nem sei se essa eu tive. Mas com toda certeza, saio daqui, com cada dia vivido, mais confiante no poder de Deus.
E isso, 180 dias de liberdade não iam me mostrar. Foi preciso estar aqui. Foi preciso ver o olhar das pessoas, viver o que elas estavam vivendo. Ver a alegria de cada alta hospitalar, ver a superação de limites, ver a tristeza no olho de uma filha, chorando a possibilidade de perda de uma mãe. Ver um menino chorar, e me angustiar com o medo dele, por que não tinha mais lugar pra ele, na ala infantil.
Para quem reclamava da vida, não tendo nenhuma razão, para tal, foi uma lição e tanto.
Tinha um descontentamento, um sentimento de que nada estava suficiente. E ao longo dos últimos anos, fui aprendendo. Com cada perda, com cada recomeço.
Aprendi a ser paciente, a ser grata. Acho que é isso. Aprendi que o muito, quando vazio, não é nada. E o pouco, quando é cheio de sentimento, vale infinitamente mais.
Aprendi, principalmente, a amar. Amar as pessoas.
Por que amar, vai além de gostar. É aceitar, é entender, é perdoar, e o mais importante. É deixar ser amado.
Obrigada, por tudo. Aprendi também que tudo passa. O bom, o formidável, e o ruim, o triste...
Mas quero aprender mais, com as pessoas, com o convívio, com as alegrias. Mas sei que somos forjados, é na dificuldade, na incerteza da vida. Talvez aí esteja, o grande mistério de saber viver.